sexta-feira, 8 de março de 2013

HOMENAGEM ÀS MULHERES DO ÁUDIO!


Os setores mais apreciados pelas mulheres ainda são aqueles que envolvem a organização, administração ou visual de um evento ou produção cinematográfica, publicitária e institucional. A capacidade da mulher em desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo, contribuem para tal.
            Poucas são as que atuam profissionalmente na área técnica do Áudio e em suas ramificações, fato que vem mudando de alguns anos cá. No Brasil os setores do áudio mais procurados pelo público feminino são os de broadcast, cinema, teatro, rádio, estúdios de gravação, espetáculos e shows ao vivo seguindo esta ordem. No exterior a quantidade de profissionais mulheres é maior e algumas delas destacam-se também na área da engenharia do áudio e do som.
            A equipe do CEAATEC, em homenagem às mulheres profissionais, voluntárias ou amantes do Áudio, traz uma entrevista exclusiva com Talita Kuroda, musicista, produtora e técnica de som ex-aluna do CEAATEC.
            Natural de Curitiba PR, Talita iniciou seus estudos em áudio no CEAATEC em 2008 e atualmente reside no Rio de Janeiro onde trabalha como operadora de som. Dentre alguns de seus trabalhos operacionais estão "Gypsy - O Musical", "Beatles num Céu de Diamantes", "É com esse que eu vou", "Um Violinista no Telhado" e "O Mágico de Oz", com direção de Charles Moeller e Claudio Botelho, e "Rock in Rio - o Musical" com direção de João Fonseca, todos com design de som de Marcelo Claret.

CEAATEC- Talita, conte-nos como foi seu trajeto, quando surgiu o interesse pela Música, é herança de família, conte-nos um pouco desse seu começo.
           
TALITA - O interesse pela música vem desde criança, estimulado pela minha mãe que me colocou num coral infantil desde os 7 anos de idade. Também nessa época comecei a aprender flauta doce e teclado. Permaneci nesse mesmo coral até a adolescência. Aos 13 anos entrei para o grupo de jovens do colégio onde eu estudava, e depois para um outro grupo de uma Igreja Católica, onde sempre fiz parte dos grupos de música. A partir desse grupo musical da Igreja, comecei a cantar em casamentos, primeiro em cerimônias, depois nas festas e em bailes de formatura. Fiz faculdade de música na FAP, onde passei a ter mais contato com a Música Brasileira, principalmente Choro e Samba, e com a Música dos Povos, através do grupo Bayaka, do grupo Terra Sonora e do grupo Omundô, dirigidos por Plinio Silva e Liane Guariente.


CEAATEC - Quando ainda estudava licenciatura na FAP (Faculdade de Artes do Paraná) você iniciou seus estudos no CEAATEC, o que exatamente levou você a estudar Áudio?
           
TALITA - Durante a faculdade, tive oportunidade de participar de várias oficinas e festivais de música por várias cidades do Brasil. Num desses festivais, em Itajaí, conheci o saxofonista e compositor carioca Mário Sève. Cantei uma música dele numa apresentação de alunos e ele gostou muito. Comecei a fazer gravações caseiras de algumas músicas inéditas dele para enviar pela internet. No início tinha que pagar estúdios para fazer essas gravações. Resolvi investir num equipamento básico para poder gravar sozinha em casa e procurei o curso do CEAATEC para aprender a operá-los.


CEAATEC - Ao se mudar para São Paulo, qual era seu objetivo? Buscar oportunidades como musicista/compositora ou produtora/operadora de áudio?
           
TALITA - Ao comprar os equipamentos de áudio e fazer o curso na antiga Audiowizards atual CEAATEC, comecei a me interessar mais pelo assunto. Fui para São Paulo para fazer mais um curso de áudio no Instituto de Áudio e Vídeo (IAV). A minha intenção inicial era fazer o curso e voltar para Curitiba. Porém, devido ao bom aproveitamento que tive no curso, consegui uma oportunidade de trabalho no próprio IAV, o que também gerou a oportunidade de ingressar para o mercado dos musicais. Simplesmente tive que ligar para minha família e amigos e dizer que não ia voltar mais...


CEAATEC - Como se deu essa transição de opções, ou seja, você trabalhava com música, dava aulas, participava de vários grupos, tinha uma produção própria, parceiros, como foi esse "sair do palco" para se dedicar aos bastidores?

TALITA - Eu ainda tenho muita vontade de viver a Música (isso mesmo, viver A Música e não viver DA Música). Não mais como um meio de sobrevivência, mas como algo que gosto de fazer, faço como quero e quando quero. Um dos motivos de eu ter começado a estudar Áudio foi a vontade de gravar um CD como cantora. Tentei vários editais em Curitiba, mas nenhum foi aprovado. Aí eu pensei: "vou comprar esses equipamentos e gravar esse CD eu mesma". Quando comecei a estudar, vi que não era tão simples assim. Aí fui estudando, estudando, arranjei trabalho, comecei a ganhar mais dinheiro com o Áudio do que com a Música e hoje estou aqui, e estou feliz. Mas ainda não gravei o meu CD...


CEAATEC - Como foi sua ida para o Rio? Oportunidades? Mercado?

TALITA - A vinda para o Rio foi devido ao relacionamento com o meu marido (namorado na época), que já morava, estudava e trabalhava aqui. É, eu larguei tudo (de novo!), por amor! Coisas de mulher... A minha sorte foi que o meu chefe, o mesmo do IAV e dos musicais de SP - Marcelo Claret - também montava musicais no Rio de Janeiro, e com a mesma produtora, que é do Rio de Janeiro. Então já vim com as oportunidades de trabalho meio estabelecidas, graças a Deus.


CEAATEC - Com esse tempo considerável de estrada e vivência, atualmente qual sua visão de mercado, ou seja, quais as oportunidades que cada uma dessas capitais, Curitiba, São Paulo e Rio oferecem tanto àqueles que estão iniciando ou mesmo já tem experiência na área?

TALITA - Em Curitiba tive poucas oportunidades de trabalho, nem sei dizer como está agora. Foram mais oportunidades de aprendizado, pois nem cheguei a receber nada por elas. São Paulo e Rio de Janeiro têm muitas produções teatrais, shows, eventos, estúdios e grandes empresas de sonorização. Acho que a melhor oportunidade de ingressar no mercado é através de cursos técnicos. Alguns habilitam o aluno a tirar o DRT de Técnico de Áudio ao final do curso, e alguns também encaminham para estágio, como foi o meu caso. Uma boa oportunidade são os editais do SESC. Vez em quando abrem editais para técnicos de Áudio, e com carteira assinada! Fora isso, é mandar currículo, conhecer pessoas, fazer contatos e conseguir indicações. No começo, é uma boa se oferecer para ajudar em gravações ou em shows, nem que seja para enrolar cabos sem ganhar nada. Pelo menos você acompanha de perto e vai aprendendo como funciona o processo. Alguma hora vão precisar de você e vão te chamar pra um trabalho onde você vai começar ganhando pouco e com o tempo vai melhorando. Isso me lembra uma frase que li num livro: "Os seus rendimentos crescem na mesma medida em que você cresce"!


CEAATEC - Além de operadora você é empresária. Possui uma produtora a Haikai Produções, conte pra nós sobre esse seu lado empreendedor e quais as atividades que acontecem na Haikai.

TALITA - Na verdade, o meu trabalho tem sido focado na operação de Musicais. Como não sou funcionária registrada das produtoras, tive que abrir a minha própria empresa para poder emitir notas fiscais. Já que tinha que abrir a empresa e podia escolher mais campos de atuação relacionados, minha empresa tem alvará para vários tipos de produções artísticas. Porém, a atividade da Haikai Produções atualmente se resume em produzir (!!!) notas fiscais para os trabalhos com Áudio, ou seja, por enquanto o meu lado empreendedor está só no pensamento...

CEAATEC - Como é trabalhar em grandes espetáculos ao lado de profissionais reconhecidos, como é a rotina e quais são os principais desafios?

TALITA - É uma honra, uma bênção e uma grande responsabilidade. A rotina é trabalhar cada dia como se o seu próximo trabalho dependesse daquele dia. Todos os dias que vou trabalhar, dou graças a Deus pelo trabalho e faço com amor, pois ele é quem coloca comida na minha mesa e paga as minhas contas. Tecnicamente falando, todos os dias faço check de todo o sistema, vejo se todas as caixas estão falando, se todos os sinais dos microfones estão chegando. Uma das maiores lições que aprendi, foi que 50% do sucesso do seu trabalho depende do seu conhecimento e os outros 50% dependem de como você se relaciona com as pessoas. Digo isso porque às vezes essa parte de se relacionar com as pessoas é um dos maiores desafios. Devemos tratar com o mesmo respeito a moça que limpa o chão do teatro e o diretor do espetáculo. Antes de sermos bons profissionais, temos que tentar ser boas pessoas e admitir que temos muito o que aprender com todas as pessoas à nossa volta. É muito melhor ser humilde, dizer que não sabe e se esforçar para aprender, do que dizer que sabe tudo e a prática mostrar o contrário...

CEAATEC - O fato de ser mulher, influi na aceitação do trabalho operacional, como foi essa recepção quanto a esse lado feminino?

TALITA - Acho que não tem muito como generalizar. No meu caso, a oportunidade veio porque obtive um bom rendimento no curso e isso me deu a oportunidade de estágio, junto com a entrevista. E uma coisa levou a outra, como já comentei anteriormente. Mas acho que depende muito de onde e com quem você vai trabalhar. Ainda existem pessoas machistas, mas acho que assim como em outras profissões, a mulher cada vez mais vem se profissionalizando e conquistando respeito no mundo do Áudio. Conheço muitas mulheres que são excelentes profissionais.


CEAATEC - O que você considera pré-requisito pras mulheres que queiram atuar nessa área operacional técnica de grandes shows ou espetáculos? 

           
TALITA - Os mesmos pré-requisitos exigidos para os homens: muito estudo, sempre ter vontade de aprender, saber se relacionar com as pessoas e saber quando deve ou não engolir uns sapos. Às vezes é preciso, infelizmente, ainda mais quando se está no começo da carreira.
            Um pré-requisito importante é não ter ouvidos muito sensíveis no sentido de que alguns homens falam muitos palavrões e na hora do "perrengue" podem não ser muito gentis. Tem que ter um pouco de sangue frio quanto a isso e tentar não se abalar. Com o tempo você acostuma e até entra no clima..!
            Mas se quiser trabalhar com isso, como eu já disse, comece se propondo a enrolar cabos sem ganhar nada, vá observando, perguntando e aos poucos você vai aprendendo e subindo na carreira. Até hoje faço isso. Por exemplo, eu trabalho em musicais e às vezes opero alguns shows. Mas tenho vontade de trabalhar em estúdio também. Como não tenho experiência em estúdio, digo às pessoas que conheço que se precisarem de alguém para enrolar cabos ou servir cafezinhos em gravações legais, podem me chamar! Tudo pelo aprendizado!


CEAATEC - Vamos agora para as perguntas mais técnicas. Como instrumentista (flautista), cantora e técnica na sua opinião, quais os equipamentos transdutores que mais lhe agradam em palcos e em estúdios?

TALITA - minha resposta para essa pergunta não é muito técnica. Já vi ótimos técnicos tirarem sons incríveis de equipamentos mais baratos e simples, e já vi técnicos não tão bons tirarem um som horrível de equipamentos muito caros. Mas pessoalmente, como cantora e técnica, confesso que investi num KMS-105 da Neumann, que é um microfone condensador que você pode segurar na mão mesmo, para usar no palco. Uso para gravar em casa também, é um microfone incrível, eu gosto muito. Não precisa nem equalizar muito, o som já vem prontinho, é só fazer um low-cut e já tá lindo, se o sistema estiver bem alinhado, é claro. Mas depende de cada voz. O bom é poder testar vários e ver qual você gosta mais pra sua voz. Mas equipamento bom mesmo, é aquele que você pode ter.

CEAATEC - Falando um pouco sobre seu trabalho nos musicais, qual é o rider utilizado, ele segue um padrão ou varia de um espetáculo para outro? 

TALITA - O rider é decidido pelo Sound Designer e varia de acordo com a formação da banda ou orquestra, com o local e com as características do espetáculo. 
CEAATEC - A produtora possui equipamentos, parte deles ou são todos locados?
TALITA - Isso também varia de espetáculo para espetáculo e depende de cada produtora.
CEAATEC - Como é planejado o design de som desses musicais? Existe um cronograma, como é a organização desde a montagem, espetáculo e pós?

TALITA - O Sound Designer analisa as necessidades do local e do espetáculo, faz um projeto calculando o nível de pressão sonora que ele quer em toda a platéia, quantas caixas vai utilizar, sua angulação, etc. A operação e o Design de Som são trabalhos diferentes que se complementam, infelizmente não tenho como responder pelo cronograma e organização do Sound Designer.
CEAATEC - Agora vamos para os microfones...
Quais os tipos mais utilizados?

TALITA - Os mais utilizados são Lapelas, Headsets e/ou Earsets para o elenco.
CEAATEC - Quais as técnicas de microfonação mais convenientes para este tipo de evento?
TALITA - Apesar de existirem as chamadas "técnicas de microfonação", o que mais se utiliza é colocar o microfone onde o som ficar melhor. Cada músico e cada instrumento têm características distintas, se um posicionamento de microfone deu certo pra um violão, por exemplo, não quer dizer que vai ficar bom para todos os violões e violonistas. E isso também é definido pelo Sound Designer.
CEAATEC - Conte-nos como é o operacional dos microfones. Você deixa todos abertos durante todo o tempo de espetáculo, ou segue a cena e vai abrindo conforme a necessidade da mesma?

TALITA - Eu tenho cenas gravadas na mesa digital, mas elas são só uma base para saber quem estará em cena. A operação consiste em decorar a peça toda e abrir e fechar os microfones a cada fala. Mas isso é o jeito que eu trabalho, pode ser que outros operadores façam diferente.
CEAATEC - Como é a monitoração dos músicos/atores?

TALITA - Também varia de acordo com a necessidade do espetáculo, pode ser fone, in-ear, caixa. Na minha equipe de trabalho, somos em 2 operadores geralmente, quando são musicais grandes. Um faz o PA da orquestra e a monitoração e o outro opera as vozes.
CEAATEC - Existe passagem de som em musicais? Há necessidade de automação?? Como é essa questão??

TALITA - Existe sim, passamos o som sempre antes do espetáculo, como nos shows. Eu geralmente não uso automação, faço tudo na mão mesmo.
CEAATEC - Nesta área existem alguns desafios interessantes e que marcam a vida profissional dos técnicos. Você tem algum "causo" para nos contar, ou algum operacional que tenha exigido mais atenção, mais cautela...

TALITA - Ah, são tantos causos... Mas o mais bizarro e curioso é o de um teatro que era antigo, meio mal conservado. Um dia eu estava operando uma peça e senti algo andando no meu braço. Dei aquela sacudida no susto, e o negócio caiu em cima da mesa de som. Era uma barata horrorosa! Ainda bem que não sou escandalosa, senão eu teria perdido o meu emprego naquele dia mesmo! Fora os morcegos que ficavam sobrevoando a platéia... Ah, isso sim exigia atenção redobrada e muita cautela! 

Nesse mesmo teatro, como em muitos outros, eles construíram uma cabine de som onde o operador de PA não consegue ouvir o PA, o que é um absurdo. Nesse caso, as mesas de som são colocadas em algum lugar da platéia, tomando algumas poltronas. Nesse teatro da barata, montaram uma estrutura onde mesa ficou em cima de várias poltronas. Eu operava sem sapato, em pé sobre duas poltronas, um pé em cada uma, dessas que fecham quando você levanta. Imagina a concentração pra manter o equilíbrio, desviar das baratas e dos morcegos e ainda por cima operar a peça... Não foi fácil, não! 
  

CEAATEC - Quais são suas expectativas para o futuro da área??

TALITA - Acho que quem estiver preparado, atualizado e estudar muito terá boas oportunidades, ainda mais com os grandes eventos que estão para acontecer no Brasil, como Copa e Olimpíadas. Eu nunca fui para a Broadway, mas já ouvi falar que os espetáculos que estão sendo produzidos aqui não ficam atrás dos de lá. Espero que esse mercado cresça cada vez mais e se expanda para além do eixo Rio - São Paulo. 


Além dos musicais importados da Broadway, o Brasil tem produzido e criado seus próprios musicais, com excelente qualidade. Aqui no Rio já foram feitos musicais sobre Ary Barroso, marchinhas de carnaval (Sassaricando), sambas de carnaval (É Com Esse Que Eu Vou), Tim Maia, Luiz Gonzaga, Tom e Vinícius, entre outros. Seria ótimo se houvesse mais incentivo do governo para a realização desse espetáculos em outras cidades, pois além de valorizar a nossa cultura, gera emprego para muitas pessoas de todas as áreas relacionadas. 

Em Curitiba, sei de alunos do curso de Artes Cênicas da FAP que estão muito interessados em Teatro Musical, pesquisando, produzindo e iniciando um movimento que acredito que tenha um futuro muito promissor na área, o que será muito bom para a cidade. Pode ser uma boa oportunidade para quem mora em Curitiba e quer trabalhar com Áudio em Musicais. Como dizem os jovens, #ficaadica !!!


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